13.3.09

Perdas

Na Lua Cheia, de uma sexta-feira 13, a Grande Loba conta uma história para o guri...

”De todas as coisas certas na existência mortal, perda sempre foi uma coisa difícil para a Loba aceitar. Talvez por sua natureza provedora/protetora, geneticamente desenhada para proteger a Matilha, deixar algo fugir ao seu controle ou ao alcance das patas gerasse uma urgência, um alerta que demorava a sumir, durando algumas madrugadas insones e alguns dias inquietos, nos quais a Caça era mera obrigação. Por isso, quando a notícia da viagem do Mago veio pela Fada dos Olhos ela pegou a informação e a guardou em algum lugar seguro, de onde não fugisse para provocar dor.
O envelhecer começa a cobrar seu preço e as perdas, cada vez mais numerosas: tempo, companheiros, dentes, ficam cada vez mais difíceis de aceitar. 
Os olhos, outrora agudos, agora precisam mais e mais dos feitiços da Fada dos Olhos e, talvez por isso, o choro fique mais fácil; ou então está ficando mole mesmo, apenas uma carcaça velha e mole.
O Mago sempre fora um Guia, um tradutor de sinais, uma mão amiga coçando a parte de trás das orelhas nos tempos de descanso; uma mão rápida no pescoço quando um passo mal pisado pudesse arruinar a Caça; um vigia silencioso e onipresente garantindo um sono em paz...
  E agora ele iria para longe da Montanha, de onde continuaria a sua missão, mas longe das patas, tão longe que seu cheiro seria apenas memória do focinho.
Todas estas voltas apenas para contar sobre a Despedida e suas conseqüências. 
Rever o Mago em pessoa, em seu próprio campo, fez a Loba pular de alegria, abanando o rabo e latindo, muito canis e pouco lupus. 
Aparecer assim, sem avisar, no meio da Caçada, foi uma boa estratégia, pois o calor da batalha não a deixou sentir a ferida funda feita com precisão para doer, marcar, mas não matar. 
Depois que os aprendizes se calaram, o silêncio fez a ausência aparecer e crescer. Foi assim, rápido, mal começou já tinha terminado e, mais rápido que dizer “Até logo”, ele se foi. 
Seguindo sua natureza, a Loba deu ao Mago um pouco de seu perfume. O Mago deixou então o perfume das maçãs para que, cada vez que aspirassem, um elo se formasse e eles não esquecessem. 
De resto, é só esperar um novo Ciclo que, como o mar, talvez traga o Mago qualquer dia desses.”

Grande Loba... cuidando da matilha... aquela que continuará sempre aqui, no coração do Mago!

Um comentário:

Anônimo disse...

Nem todas as perdas são, completamente, dolorosas. É possível continuar aprendendo mesmo com as ausências. Afinal, acho que o Mago concordará, que a lua sempre continuará no céu brilhando para aqueles que se perdem.